Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Patrick Grosner/DivulgaçãoMarquim, Caio Cunha, Digão e Canisso comemoram o oitavo disco do Raimundos -- o primeiro financiado pelos fãs
Mas, embora a música seja o assunto de maior
interesse e uma das áreas que mais crescem entre as "vaquinhas" online,
somente agora artistas brasileiros de renome internacional ou com anos
de carreira aderiram à prática.
"Tínhamos um medo danado de não alcançar a meta", revela Canisso, baixista do Raimundos, ao UOL.
Com mais de 20 anos de estrada, a banda lançou recentemente o oitavo
trabalho, "Cantigas de Roda", o primeiro de estúdio em mais de 10 anos e
o primeiro sem o auxílio e dinheiro de uma gravadora. "Hoje em dia
somos nossa gravadora, e nossos fãs são os donos dela", avalia.
O Raimundos não foi a primeira banda a conseguir tal feito no "crowdfunding". Desde 2011, as bandas Autoramas
e Forfun já haviam conquistado mais do que a verba necessária para
lançar seus trabalhos. Mas o grupo de Brasília, um dos mais
significativos do rock nacional na década de 90, jogou luz na
ferramenta.
"O que está acontecendo é que
rompemos a barreira do 'crowdfunding'", explica Bernardo Palmeira, sócio
e diretor artístico do site Embolacha, que promove esse tipo de
financiamento. "Havia resistência por parte dos músicos para pedir
dinheiro. Se isso era realmente bem visto."
"Hoje em dia somos nossa gravadora e nossos fãs são os donos dela"
A indústria musical, viva aos trôpegos, também ajudou na descoberta.
Bernardo já trabalhou em grandes gravadoras, como Universal e Sony, e,
após criar um selo independente, o Bolacha Discos, investiu em 2011 na
criação do site, com foco exclusivo na música.
"As gravadoras antigamente ofereciam um valor antecipado, e aquilo se
convertia em produto. Mas tudo isso já foi por água abaixo. Os artistas
viram que o 'crowndfunding' nada mais é do que compartilhar um trabalho
direto com o fã, o único que nunca sai do seu lado."
O Raimundos que o diga. Com a ajuda de 1,6 mil fãs, a banda ficou
surpresa ao arrecadar R$ 123 mil para a gravação do álbum, mais que o
dobro do valor solicitado: R$ 55 mil. Os fãs recebem ingressos,
autógrafos, encontros e nome nos agradecimentos como contrapartidas,
além do mimo maior: o próprio disco físico, exclusivo dos doadores. Quem
não colaborou só consegue ouvir o trabalho na versão digital.
Canisso conta que chegou a sondar gravadoras para gravar "Cantigas de
Roda", mas que, na ponta do lápis, eles descobriram que o financiamento
dos fãs daria mais liberdade artística e financeira.
"O valor para produzir um disco não muda, mas as propostas que a gente
recebia queriam uma mordida nos ganhos dos shows. Eles agora querem seu
sangue. Fizemos uma estimativa do que eles poderiam oferecer para a
gente. Divulgação? Distribuição? Vamos pagar o escritório de divulgação.
É a mesma que as gravadoras estão usando. É mais vantagem você pagar
tudo sozinho", afirma.
Foi Canisso que
explicou, no papel de um professor de cursinho, as fórmulas básicas do
"crowdfunding" no vídeo de apresentação do projeto, a grande arma para
que a campanha ganhe notoriedade e participação. Agora o músico relembra
a primeira fase da banda, quando não apenas tocava baixo, mas
trabalhava nos bastidores para fazer o Raimundos acontecer. "Minha casa
está cheia de pilhas de discos. Eu e a patroa aqui estamos
distribuindo-os por correio para os colaboradores".
"Seus pais sabem?"
Com prestígio internacional, o baiano Lucas Santtana
já estava com um disco pronto quando pensou em alternativas para
lançá-lo de maneira rápida e menos nociva ao próprio bolso. Para pagar
mixagem, masterização, projeto gráfico e fabricação das mídias, pediu R$
21 mil. Faltando 45 dias para a meta ser alcançada, já tem R$ 9 mil no
caixa. Para tal, lançou mão de um vídeo cômico, com a participação do
ator Felipe Rocha, no qual explica o projeto sem deixar de caçoar da
própria condição. "Seus pais sabem que você está pedindo dinheiro?",
questiona o amigo ao cantor.
Lucas, que já
participou de editais para lançar os últimos trabalhos, vê o
"crowdfunding" como mais uma opção para os artistas. "A questão é que
são poucos editais e todos eles têm uma curadoria. É algo bem legal, mas
uma roleta russa", revela o compositor.
Quem optar
pelos pacotes mais caros do projeto -- de R$ 2 mil a 10 mil -- ganha uma
discotecagem de Santtana ou um show acústico na casa do doador.
Já o cantor e compositor Daniel Belleza
foi pelo mesmo caminho ao financiar seu "Canções para Crianças de Todas
as Idades" em 2013. Para arrecadar R$ 10 mil, chegou a oferecer um
curso de truco "avançado", uma serenata e uma canção dedicada ao fã que
doasse R$ 350.
"A música já foi feita, só
falta gravá-la. O que mais me surpreendeu foi a aceitação das pessoas em
relação à minha campanha bem-humorada. Achei que metade das pessoas
iria acabar me deletando das redes sociais", conta Daniel ao UOL, aos risos.
No múltiplo papel de artista e divulgador de próprio trabalho, Gabriel
Thomaz, vocalista e guitarrista do Autoramas, afirma que o processo
pode ser revelador. "A gente se organiza e restabelece as regras
antidemocráticas impostas. Estamos passando por cima de tudo", defende.
"Internacional", o primeiro DVD da carreira, é o segundo trabalho da
banda a nascer de parto coletivo. O primeiro foi o disco "Música Crocante"
(2012). "Sempre tiramos [dinheiro para gravar um disco] do nosso bolso,
do nosso cachê. Mas tendo o recurso antes, é muito melhor. É algo que
dá trabalho. Seria muito melhor só tocar, gravar e viajar, mas estamos
aí realizando."
O Catarse, um dos sites de
"crowdfunding" mais populares no país, estuda lançar um canal exclusivo
para projetos musicais. Cerca de 22% do total de 1.756 projetos que já
passaram pela plataforma são da área. O maior arrecadador da história do
site, entre todos os projetos concluídos, foi a banda carioca Forfun,
em 2012, no lançamento do DVD "Ao Vivo no Circo". Foram R$ 187 mil
arrecadados. O Raimundos aparece em 4° lugar.
Em quatro meses, os projetos musicais do Catarse já chegam próximo a
toda a produção de 2011. Estão incluídos aí os próximos álbuns da banda Ludov e do ex-Planet Hemp Black Alien, com o segundo volume de "Babylon By Gus" (2004).
Rodrigo Santos, do Barão Vermelho,
planeja engrossar a lista com seu segundo projeto solo por
"crowndfunding", após o DVD "Ao Vivo em Ipanema". "A gente sofre para
apresentar um trabalho nas cenas independentes. Acho que isso pode ser
maior no futuro. É a vaquinha da época da faculdade", explica.
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Ney
Matogrosso x Gerson Conrad x Secos e Molhados - separados desde 1974 ::
A banda teve uma carreira meteórica. Surgiu, se tornou um fenômeno e
acabou em pouco mais de 1 ano, sem dispensar muita briga envolvendo
problemas financeiros e desacordos no comando empresarial da banda. João
Ricardo e Ney Matogrosso, desde então, nunca mais se falaram. Gerson
Conrad, o terceiro elemento, afirmou em entrevista ao UOL que anos atrás
ofereceram R$ 5 milhões para a volta da formação original, mas as
rusgas ainda são muito profundas para que isso ocorra Leia mais Reprodução
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