As substâncias proibidas são eficientes para queimar gordura, mas podem provocar sérios prejuízos na visão
Muito utilizado por quem quer emagrecer e pelos praticantes de
atividades físicas, os termogênicos são substâncias que impedem a
formação de energia proveniente dos alimentos, o que faz com que a
temperatura do corpo aumente, os batimentos cardíacos fiquem mais
elevados e a pessoa se sinta mais disposta para malhar. No Brasil, a
maioria desses suplementos tem cafeína em sua composição, no entanto,
ainda é possível encontrar produtos com efedrina e dinitrofenol (DNP),
que podem causar problemas sérios nos olhos, como catarata e glaucoma.
Segundo o oftalmologista do Instituto Penido Burnier Leôncio Queiroz
Neto, essas duas substâncias são proibidas no Brasil e nos Estados
Unidos, mas pela internet e em algumas lojas de suplementos ainda é
possível comprar suplementos com esses componentes. "Na frente da loja
ficam os produtos liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) e no fundo são vendidos os que não são permitidos. A
proibição não está sendo suficiente e o problema é que as pessoas não
encaram esses produtos como remédios, mas como suplementos dietéticos",
analisa Neto.
Essas duas substâncias seriam mais procuradas por
serem mais eficientes para quem quer emagrecer. Neto cita um estudo
realizado na Universidade de Stanford que aponta que o dinitrofenol
deixa o metabolismo 50% mais rápido, o que faz com que a pessoa consiga
emagrecer de 1,5 a 2 quilos por semana. Mas essa mesma pesquisa também
mostrou os efeitos colaterais dessa substância já que sete mulheres de
45 a 55 anos desenvolveram catarata bilateral depois de tomar suplemento
com esse componente num período de seis a oito meses.
Segundo
Amaryllis Avakian, oftalmologista da Clínica AACO, o DNP é um queimador
de gordura muito eficiente, pois atua diretamente no metabolismo do ATP (molécula que serve para armazenar e utilizar energia),
evitando sua formação. "Pouca produção de ATP faz com que o organismo
tenha que metabolizar mais açúcar para queimar energia. Sendo assim,
como todo o alimento que ingerimos não é usado para formação de ATP, o
organismo tem que tirar dos seus estoques de gordura a energia
necessária para sobrevivência", explica.
A médica conta que os
sintomas observados com o uso dessa substância são transpiração
excessiva, desidratação, respiração ofegante, taquicardia, aumento da
pressão arterial, elevação das taxas metabólicas, insônia e náuseas.
Avakian afirma ainda que o problema dessa substância é a dosagem
ingerida, pois quando consumida em excesso pode levar à morte. "Outros
efeitos colaterais são dermatites, alterações no sistema nervoso
periférico e problemas visuais, dentre eles, a formação de catarata,
principalmente em mulheres", aponta.
Neto explica que essa
sequela visual pode ocorrer com o uso do DNP, pois o termogênico gera
calor e acelera a morte das células. "A catarata surge porque o
cristalino do olho se torna opaco, o que reduz a qualidade da visão. Não
existem medicamentos capazes de recuperar essas células e o único
tratamento disponível é a cirurgia em que o cristalino opaco é retirado e
substituído por uma lente intraocular", explica.
A efedrina, por sua vez, já foi uma droga muito eficiente no tratamento
da obesidade, pois é uma substância parecida com as anfetaminas. "Ela
possui uma grande ação termogênica e proporciona grande queima de
gordura, no entanto, ela causa dependência e uma série de efeitos
colaterais como problemas cardíacos, alterações renais e endócrinas e
aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca", aponta Avakian.
De acordo com a oftalmologista da Clínica AACO, o uso dessa substância
também pode trazer outros malefícios como lesões na pele,
comprometimento do fígado, queda da imunidade e risco de AVC (Acidente
Vascular Cerebral).
Queiroz Neto conta que um paciente, depois
de tomar esse suplemento, chegou ao consultório com a visão embaçada e o
exame mostrou que, independente da quantidade de luz, sua pupila se
mantinha dilatada. O oftalmologista afirma que esta condição diminui o
ângulo entre a íris (parte colorida do olho) e a córnea, o que predispõe
ao aumento da pressão intraocular, característica do glaucoma de ângulo
fechado.
"Essa doença é a maior causa de perda irreversível da
visão e não apresenta sintomas. Quem tem glaucoma de ângulo fechado
geralmente só percebe a doença durante uma crise aguda, que é
caracterizada por dor intensa nos olhos, queda visual, enxergar halos ao
redor da luz, náusea e vômito", explica Queiroz Neto. Segundo o
oftalmologista do Instituto Penido Burnier, para prevenir a evolução do
glaucoma o paciente precisou interromper o uso do termogênico, só que
ainda assim ficou com sequela visual.
Para evitar esses
problemas, Queiroz Neto acredita que as pessoas precisam se
conscientizar de que essas substâncias são como remédios e podem ter
efeitos colaterais. "Normalmente, a pessoa não busca pela efedrina, mas
sim pelo termogênico que vai ajudar a emagrecer, portanto o ideal é
sempre olhar a embalagem antes do uso e só tomar qualquer suplemento com
supervisão médica", finaliza.
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